Recentemente fiz uma viagem para a Índia e, com certeza, é o lugar ao qual já fui que as pessoas mais questionam sobre e ficam curiosas a respeito, o que não é por acaso. Então resolvi escrever sobre esse lugar fascinante, sobre minhas experiências e também dar algumas dicas a quem quiser se aventurar a caminho das índias. Primeiramente falarei um pouco do país e depois sobre a viagem em si e dicas para quem quiser ir.
A Índia é o segundo país mais populoso do mundo, tem 1 bilhão e 200 milhões de habitantes (1 bilhão a mais que o Brasil), o sétimo com maior extensão territorial (o Brasil é duas vezes e meia maior) e o primeiro em taxas de crescimento econômico. É um país enorme e com muita, muita gente. É um caldeirão cultural, étnico, religioso.
Muitas vezes as pessoas enxergam a Índia como um país de cultura única, porém a realidade é muito diferente. Em cada canto do país, em cada vilarejo, em cada cidade e dentro das mesmas cidades a cultura varia muito. Se pensarmos que a Índia foi invadida por diversos povos estrangeiros, que deixaram suas marcas (gregos macedônicos, persas, mogóis, britânicos entre outros) da para entendermos um pouco tanta complexidade.
Algo que sempre me perguntam é sobre a comida, que realmente é picante, geralmente tem curry e massala e eles não comem carne de gado de jeito nenhum (não se encontra), mais ou menos metade da população é vegetariana, porém ela é diferente em cada lugar, é como querer dizer o que é comida brasileira, o que se come no nordeste é muito diferente do que se come no sul.
Embora a maioria da população fale hindu, existem várias outras línguas. O inglês, devido a longa e recente colonização britânica, também é língua oficial e falado por boa parte das pessoas, embora as vezes seja um inglês de difícil compreensão, mas linguisticamente não é um obstáculo viajar por lá, pra quem fala um pouco de inglês. Outras várias línguas e até mesmo o português, na região de Goa, são falados, porém em proporções bem menores. Algo interessante e mesmo engraçado de se notar, é observar os indianos conversando entre si, muitas vezes estão falando hindu, depois começam a falar inglês misturado com hindu, uma confusão só. Quando cheguei no país fui pegar um taxi, minha namorada (que já estava lá há um mês) começou a brigar com o taxista por um desconto, eu fiquei pensando que língua era aquela e como ela aprendeu aquilo tão rápido, depois fui perceber que era inglês e a cada dia meus ouvidos se adaptavam mais àquele inglês.
Outra coisa interessante é a religião, a maioria é de hindus, cerca de 80%, porém o próprio hinduísmo é algo totalmente diferente e de difícil compreensão. É uma religião politeísta, que cada família idolatra um Deus, mas que nenhum Deus é superior ao outro, talvez seja como se pegasse um punhado de religiões e as colocassem num compartimento só, chamado hinduísmo. A segunda religião mais praticada é o islamismo (12,5% da população) depois o cristianismo (2,5%), siquísmo (2,0%). Essa ultima é uma religião nova, tem apenas uns 200 anos, monoteísta, que não idolatra nenhum Deus de nome especifico, no templo só há um livro no altar e a religião tem elementos do hinduísmo e islamismo, é muito interessante e vale a pena pesquisar pra quem se interessar. O budismo, embora tenha surgido na Índia e por várias vezes na foi uma religião muito praticada no país, hoje é pouco praticado na Índia, sendo mais praticado em outros países asiáticos.
Fui à Índia com o intuito de visitar minha namorada, que estava passando uma temporada de trabalho na capital e segunda maior cidade Nova Déli, então acabei passando mais tempo em Déli do que em qualquer outra cidade. Também visitei Agra, Varanasi e Goa, confesso que ficou faltando muitos lugares interessantes como Mumbai (maior cidade), Calcutá, Bangalore, Pune, entre outras.
Chegando em Déli a primeira impressão foi do aeroporto, fantástico, supermoderno (por sinal os aeroportos de lá, de maneira geral, são muito bons e as autoestradas também, nos dão inveja). Fui trocar algum dinheiro, de dólar pra rupias e a cada 100 dólares dava uma pilha de notas indianas. Peguei um táxi e fui pro hotel, que por sinal foi um dos melhores hotéis que já fiquei em toda minha vida (The Leela Palace Kempinski), por um preço de hotel executivo nas grandes cidades brasileiras. Há muitas opções de bons hotéis na Índia, por preço bastante acessível. Serviços, de maneira geral, são muito baratos por lá (hotéis, taxis, passagens aéreas etc), já bens de consumo não são baratos.
Realmente é verdade que em Déli, e em todo país, há muita pobreza, muita sujeira. Alguns clichês são verdadeiros, outros nem tanto. O trânsito é caótico, todo mundo buzina pra tudo, as vacas vivem iguais cachorros vira-latas e atrapalham o trânsito (mesmo em cidades grandes, como Déli, porém menos que em cidades menores), tem macacos soltos, barbearia e dentista na calçada e do outro lado da rua um shopping center moderno com um hotel Sheraton. Realmente precisa se preocupar onde comer e o que comer, pois a higiene com o manuseio da comida não é igual ao ocidente e papel-higiênico é bom levar consigo, pois numa emergência pode não encontrar em banheiros públicos, porém em hotéis, restaurantes internacionais, shoppings, aeroportos etc isso não é um problema. Os indianos também abordam pedindo, várias vezes, para tirar foto com todo mundo que não parece indiano, se você tirar uma foto outros pedirão, portanto não tenha medo de negar e muitos ficam nos filmando de longe e nos olhando como se fossemos alienígenas. Outra coisa que é verdade é que mulheres devem se preocupar um pouco com a vestimenta e horário de estarem sozinhas na rua, pois a Índia é um país com alto índice de estupro, então mulheres ocidentais precisam se informar antes de saírem à noite e evitem roupas muito curtas e decotadas, por outro lado assaltos, furtos e roubos são muito raros. Também é muito calor, eu fui em abril e não recomendo essa época do ano, março/abril/maio é muito calor, de dar inveja a Cuiabá, junho/julho/agosto chove demais, os outros meses são melhores para uma visita.
Déli tem muita coisa pra se ver e fazer, como o templo hindu de Akshardham (foto acima) que é maravilhoso, o Guruduwara Bangla Sahib que é um templo siquísta muito interessante, o Qutb Minar que são uma serie de construções e ruínas de vários períodos históricos, o Lodi Gardens que é um parque muito bonito, o Rajpath e o India Gate, que é uma espécie de arco do triunfo indiano e muitos outros templos, túmulos e parques, a cidade é pura história indiana. Para comprar produtos típicos indianos e baratos, o Sarojini é o mais conhecido (uma dica: lute por cada centavo). Já para fugir um pouco da rotina indiana tem o moderno shopping, com lojas ocidentais e indianas Select Citywalk, também a região de bares e baladas Hauz Khas Village. Quando for andar por Déli, utilize um rickshaw motorizado, é uma aventura além de muito barato.
Depois fui a Agra, visitar o famoso Taj Mahal (um complexo muçulmano mogol de tumulo e mesquita, feito em meados de 1600 com mármore branco e pedras incrustadas, feito por Xá Jahan para servir de mausoléu a princesa Muntaz, exatamente como na música de Jorge Ben Jor) e o Forte Agra. Fui de manhã cedo, com um táxi já previamente negociado e cheguei de volta em Déli a noite. É um tanto quanto cansativo ir de carro, embora seja relativamente perto e a estrada muito boa (padrão europeu ou americano) só pra sair e entrar de Déli e Agra é um trânsito infernal que consomem boas horas, recomendo ir de avião e/ou dormir uma noite por lá. Porém a visita ao Taj Mahal vale todo o tempo e dinheiro gasto, é simplesmente majestoso, deslumbrante, faltam palavras para descrever, se você for e quiser contratar um guia para te explicar todo o complexo, vale muito a pena.
No dia seguinte peguei um voo a Varanasi (não precisam se preocupar com os voos, pois as companhias aéreas são boas, seguras e baratas e os aeroportos muito bons), a cidade mais sagrada do hinduísmo, no coração do rio Ganges, rio que por si só é quase um Deus. Considero essa a parada obrigatória de quem for a Índia, embora não precisa gastar mais de uma noite por lá, pois é bastante desgastante tamanha intensidade, ali você percebe o que é a cultura indiana, é o ápice da religião hindu. Também peguei um guia, pois a cidade é cheia de ruazinhas, templos e vielas na beira do rio, além dos conhecidos crematórios a céu aberto, existem muitas vacas, macacos, ratos, bodes e outros animais andando, comendo e defecando nessas ruas, em meio a cheiro de incenso e cerimonias religiosas. O momento mais interessante é o nascer e o pôr do sol, recomento ir aos dois e dar uma volta de barco a remo ou pequeno motor, que é quando há os rituais diários e várias velas flutuantes são soltas no rio e fazem orações nos templos. Eu esperava ver um rio altamente poluído, com corpos e partes de corpos flutuando, porém não vi, vi vários peixes pulando e a única coisa boiando eram velas, embora existam as cremações na beira do rio, porém não recomendo tomar banho ali para se purificar, como fazem os hindus. Também é um lugar muito bom para se comprar produtos de seda, além da alta qualidade é muito barato. Uma coisa engraçada foi o táxi que nos conduziu por dois dias, umas 8 bateu ou foi batido por motos várias vezes e o motorista continuava como se nada tivesse acontecido. Ou seja, nem pensem em dirigir na Índia, além da mão inglesa, o trânsito é infernal.
Depois fui a Goa, um verdadeiro paraíso. Resorts majestosos a beira mar, com uma água do mar muito quente e comida maravilhosa. É quase uma fuga da Índia sem sair da Índia, uma antiga colônia portuguesa, com aqueles casarões antigos de fazenda que vemos por aqui, além de muitas igrejas católicas. Algumas pessoas ainda falam português. Eu fiquei no resort Park Hyatt Goa e valeu cada centavo.
A Índia é um lugar que vale muito a pena visitar, apesar da passagem não ser muito barata e o voo cansativo, os hotéis são bons e baratos, assim como os custos do dia-a-dia. Esteja preparado pra ver muita pobreza, crianças batendo no vidro do táxi pedindo esmola, sujeira e fezes de animais, gente urinando na rua e ao som das buzinas, porém também esteja preparado para ver templos maravilhosos, uma história fascinante, um caldeirão de cultura, é um aprendizado sobre o ser humano, a espiritualidade, aos cheiros, temperos. Você até pode se divertir mais em uma viagem pra Europa ou pros EUA, porém nunca será inesquecível e te encantará tanto com o diferente, aprenderá tanto com o diferente e as várias formas de manifestação humana, que na Índia.