Luiz José da Costa, como foi batizado, nasceu em 15 de agosto de 1961 e foi criado com os outros sete irmãos na cidade do interior. A cidade é conhecida como a capital brasileira do tomate. O cantor é descrito por pessoas próximas como um homem de hábitos simples, extrovertido com os íntimos e muito reservado com quem ainda não conhecia.
Na época de menino, ele e Emival Eterno da Costa, que viria a ser sua dupla com o nome artístico de Leonardo, já ouviam os ídolos Chitãozinho e Xororó e recebiamo incentivo do pai, o lavrador Avelino Virgulino da Costa, que estava sempre acompanhado de um violão.
A Escola Estadual Joaquim Soares da Silva, onde Leandro estudou, em Goianápolis, guarda até hoje a ficha com detalhes da vida de estudante dele. No colégio, o sertanejo se destacava nas aulas de história, mas não tanto em matemática.
Pescaria e baralho
Amigos lembram que quando não estava com um violão, Leandro tinha gostos simples, como pescar e jogar baralho. Ele torcia para o São Paulo, mas gostava mesmo era de Copa do Mundo. No entanto, mesmo para quem o conhecia, as principais memórias são relacionadas à música.
"Eu trabalhei com eles [Leandro e Leonardo], fomos criados todos juntos. Eu me lembro que eles começavam a cantar. Cantavam o dia inteiro músicas do Milionário e José Rico, do Zezé di Camargo. Depois foram tocar em bailes", lembra o horticultor Valdeci de Jesus, de 54 anos.
Música e política
Além do sonho de ser cantor, Leandro queria também entrar para a política. “Ele falava muito que queria cantar até os 50 anos e que, depois, pararia e se candidataria a senador pelo estado de Goiás”, como recorda o também horticultor Jair de Sousa Leite.
Para se dedicar à carreira, os irmãos se mudaram para Goiânia, conseguiram trabalhos para se sustentar na capital enquanto passavam todo o tempo livre nos ensaios.
Leandro e Leonardo
Com ajuda de um tio e do patrão do Leonardo, a dupla passou a investir na carreira com apresentações pequenas e que não rendiam muito dinheiro. Na época, eles escolheram o nome da dupla ao saberem de gêmeos de um colega de trabalho que haviam sido batizados como Leandro e Leonardo.
Mesmo com dificuldades financeiras, a dupla lançou o primeiro disco em 1984 e vendia os exemplares nos bares onde se apresentava. Os irmãos começaram a ficar conhecidos dois anos depois, com a gravação da música Contradições, mas o estouro ocorreu em 1989 no lançamento da canção Entre Tapas e Beijos.
No ano seguinte, Leandro e Leonardo gravaram a música que mais projetou a carreira da dupla: Pense em Mim. A música foi escrita pelos pintores Mário Soares, Douglas Maio e José Ribeiro. A canção começou a ser criada com uma batida de reggae, depois migrou para o estilo country antes de ser gravada como sertanejo.
Depois do sucesso, a dupla ganhou projeção nacional, mas manteve a personalidade que os familiares e amigos conheciam desde a infância.
Assessora da dupla desde o início da carreira, Ede Cury lembra que Leandro era muito brincalhão com quem tinha intimidade. No entanto, para os palcos e para se relacionar com os fãs, era muito tímido.
Nos 15 anos que fez dupla com o irmão, ela conta que Leandro sempre precisou de um “incentivo” para encarar as multidões.
“Eu lembro que, para entrar no palco, o Leonardo tinha que empurrar o Leandro. Toda vez era assim, para não ter que ficar esperando”, recorda-se Ede.
Segunda voz
Apesar da timidez, depois que subia no palco, Leandro encatava. Os artistas afirmam que o cantor era dono de uma das mais belas segundas vozes da música brasileira. Outros "segundeiros" contam que se inspiram até hoje no jeito dele de cantar.
O sertanejo chamava a atenção nas apresentações e até cantava algumas canções sozinho.
O câncer
No auge da carreira, em 1998, Leandro foi passar uns dias com amigos em sua fazenda no Tocantins e se queixou de dores no peito. Depois de uma semana, durante uma visita à cidade natal, o cantor voltou a se sentir mal durante um jogo de truco.
Preocupado com a saúde, ele foi atrás de saber o que era e, em 21 de abril daquele ano, Leandro recebeu o diagnóstico de tumor de Askin. Segundo a família, na época, ele era o sexto caso da doença, em adultos, no mundo. O cantor, então, foi para São Paulo, onde passou pelo tratamento.
Durante um dos jogos do Brasil na Copa de 1998, que Leandro acompanhava do apartamento na capital paulista, ele pediu à assessora Ede Cury uma bandeira. Durante um programa Domingão do Faustão, ela conta que o levou um manto verde e amarelo que tinha em casa porque não teria como comprar uma bandeira na rua e entregar a ele sem esterilizar.
Momentos depois, ele apareceu na sacada, já careca e envolto no tecido.
O adeus a Leandro
No dia 23 de junho de 1998, quando os brasileiros se preparavam para assistir à seleção brasileira enfrentar a Noruega, pela Copa do Mundo, na França, foi divulgada a notícia da morte do cantor. O Brasil parou para acompanhar o despedida do ídolo, que, após uma semana internado, não resistiu ao tumor.
Filho de Leandro, o empresário Thiago Costa, que na época tinha 13 anos, conta que o pai tinha esperança que ia se recuperar.
“Ele teve coragem e mostrou que não pode esmorecer. Mesmo com a gravidade da doença, ele tinha fé que seria curado”, diz Thiago.
O filho do cantor conta que tinha esperança, até dois dias antes do pai falecer, pois um empresário do pai relatou que Leandro tinha apenas 2% de chance de sobreviver. O dia 23 de junho ficou marcado para Thiago.
“Minha tia Mariana deu a notícia, no elevador: ‘Olha, o papai descansou’. Foi uma perda muito grande para todos que gostavam dele, era muito novo. Hoje, estou quase na idade dele e vejo que, realmente, tinha uma vida toda pela frente", afirma.
Fé e superação
Leandro teve quatro filhos, que se orgulham da história de humildade do pai. Thiago Costa acredita que a religiosidade da família foi fundamental para lidar com a perda de Leandro.
“Nossa família é muito unida, católica. Além disso, o Brasil inteiro fazendo orações, mandando energia positiva, minha avó foi a que mais deu força, aquela velinha é formidável, é incrível a força dela, ela é nosso esteio", ressalta Thiago.
Mãe de Leandro, Leonardo e mais seis filhos, Dona Carmem Divina da Silva se manteve forte nos últimos 20 anos, mas conta que sempre que chega o mês de junho, tudo muda. Ela relata que, nesta época do ano, lembra muito do sofrimento que toda a família passou durante a descoberta da doença, o tratamento e a morte de Leandro.
“Até hoje é difícil nesse período. Parece que o tempo já vai mudando, já vai fechando. Não tem nem como falar", afirmou dona Carmem.
“Até hoje é difícil nesse período. Parece que o tempo já vai mudando, já vai fechando. Não tem nem como falar", afirmou dona Carmem.
Fora dessa temporada, no entanto, “não tem tristeza”: “A gente só lembra dos momentos bons dele. Ele trouxe alegria para muita gente, para a família principalmente”.
Uma das formas que encontrou de se manter perto do filho foi implantando a Casa de Apoio São Luiz, uma instituição filantrópica que oferece hospedagem, transporte, alimentação e serviço de emergência a pacientes com câncer, em Aparecida de Goiânia. Era, segundo ela, o grande sonho de Leandro, mas que, infelizmente, ele não teve tempo de ver o local funcionando.