Para Medeiros, autor das biografias de Belchior e Raul Seixas, não é surpresa que o gênero domine as paradas de sucesso: “O sertanejo soube se adequar à nova realidade urbana brasileira. A ideia do sertanejo ligado ao rural não existe mais, o celular tornou todo mundo globalizado”. O jornalista afirma que as produções sertanejas têm profissionalismo e excelência tecnológica. “A qualidade do som e da imagem dos telões e os recursos que os caras usam são gigantescos. Eles poderiam tocar no Madison Square Garden”, comenta Jotabê.
O cantor Gusttavo Lima pondera sobre a falta de bandas nos rankings dos dez mais ouvidos. Ele diz que vários grupos nacionais e internacionais, contemporâneos ou não, construíram trajetórias sólidas e brilhantes: “Eles também mantêm um público bastante fiel, ainda que não estejam nas listas”.
Sobre o grande momento vivido pelo sertanejo no Brasil há alguns anos, o artista credita esse fase não só à tradição do estilo no país, mas à capacidade que a música teve de inovar de tempos em tempos e se modernizar, por isso conquista novos públicos. “Essa tradição é muito forte, o sertanejo deve continuar em alta por muitos e muitos anos”, prevê.
Concentração
Executivo de grandes gravadoras e renomado produtor, Marco Mazzola trabalhou com Raul Seixas, Elis Regina, Gilberto Gil, Gal Costa e outros integrantes da linha de frente da música popular brasileira. Ele analisa o fenômeno do sertanejo como “um movimento de cristalização da comunicação de massa”.
Entretanto, ele alerta: uma das principais marcas da nossa música é a diversidade, e, quando o mercado vira suas atenções quase que unicamente a um estilo, quem perde é o público. “Vejo um cenário triste. Você não dá oportunidade aos artistas que precisam ter visibilidade. Entendo, mas é sempre a mesma história: se a onda é funk, vamos fazer funk. Se é sertanejo, vamos de sertanejo”, diz.
Para o pesquisador Rodrigo Merheb, há uma forte estrutura de “jabá” (quando paga-se para rádios tocarem certa música) e um esquema de empresários por trás de tanto sucesso: “É isso que acontece no Brasil”. Merheb comenta que vivemos uma espécie de cultura dos extremos. “Hoje em dia não tem a cultura do meio. Ou você é nada ou tudo, e é mais fácil fazer isso com um artista solo”, avalia.
O cantor e compositor Affonsinho fez parte da banda Hanói Hanói entre 1984 e 1988. Após a experiência, ele investiu na carreira solo e já lançou 14 discos autorais, muitos de maneira independente. O músico destaca que, sobretudo em tempos de crise, é muito mais fácil investir em um trabalho solo do que em uma banda. Affonsinho diz que não se preocupa com rankings dos mais estourados das paradas: “Se eu for me preocupar, paro de tocar”.
Há 44 anos vivendo de música, o guitarrista entende que as gravadoras já não mandam mais no mercado e que as tecnologias tornaram o consumo de cultura muito diverso e enxerga o momento do boom do sertanejo com curiosidade, porém pondera: “Quem sou eu para entender essa loucura toda que acontece no mundo? Atualmente, só me preocupa fazer meu trabalho”.